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Vulgo Grace, de Margaret Atwood

14 dezembro 2017



Originalmente chamado de “Alias Grace”, mesmo nome dado à produção original da Netflix baseada no livro, este é outro romance escrito por Margaret Atwood e publicado no Brasil pela editora Rocco. Se você não se lembra da autora, ela é a mesma cabeça por trás de “The Handmaid’s Tale” (“O Conto da Aia”), também publicado pela editora Rocco, e que já tem resenha aqui no blog fazendo um paralelo entre o livro e o seriado produzido pela plataforma de streaming Hulu.


Porém, diferentemente de “O Conto da Aia”, que é totalmente ficcional (em certos níveis), Vulgo Grace é baseado em um caso real de uma jovem canadense que no ano de 1843 foi acusada e condenada pelo assassinato de seu patrão e sua governanta, quando tinha apenas 16 anos, apesar disso, esta história traz uma carga emocional bem menor do que a da República de Gilead. Este caso foi amplamente documentado nas vias de comunicação da época no Canadá, Estados Unidos e Inglaterra, e foi esse material, aliado a livros de memórias e pesquisas em arquivos históricos, que a autora utilizou para “juntar as peças” e criar sua história. Ela mesma conta que tentou ser o mais fiel possível, baseado em sua pesquisa, e apenas onde não existiam registros do que de fato aconteceu ou existiam mais de uma versão para o mesmo ocorrido, ela se permitiu criar algo novo, mas sempre partindo do que seria mais lógico no momento. Ou seja, a presente obra se encaixa muito bem no gênero de romance policial.

A razão para quererem me ver é que sou uma célebre assassina. Ou pelo menos foi o que escreveram. Quando li isso pela primeira vez, fiquei surpresa, porque costumam dizer Canto Célebre, Poeta Célebre, Espiritualista Célebre e Atriz Célebre, mas o que existe de célebre em assassinato? De qualquer modo, Assassina é uma palavra forte para estar associada à sua pessoa. Tem um odor característico, essa palavra, almiscarado e sufocante, como flores mortas em um vaso. (P. 32-33)


A narrativa é feita por vários pontos de vista: pelo de Grace Marks, nossa personagem principal; pelo olhar do Dr. Simon Jordan, médico que acompanha Grace, e também através de cartas trocadas entre vários personagens. Para mim, os capítulos mais interessantes com certeza foram os da própria Grace.


A premissa da história é que Grace, tendo 16 anos e trabalhando como empregada na casa do Sr. Kinnear, juntamente com a ajuda de outro empregado da casa, James McDermott, teriam assassinado a sangue frio tanto seu patrão, quanto a governanta do local, Nancy Montgomery, que diziam ter um caso com Kinnear. Acontece que Grace alega não ter lembranças sobre o ocorrido. A moça e McDermott são levados a julgamento e condenados - ele à pena de morte e Grace à prisão perpétua. Ela escapa do mesmo destino de James apenas porque seu advogado foi esperto o suficiente para convencer o júri de que ela fora seduzida por McDermott devido a sua pouca idade e por ser mulher. Isto e um grupo de pessoas influentes que se organizaram pedindo pela absolvição de Grace, por acreditarem que ela havia sido vítima das circunstâncias e nada tinha a ver com os assassinatos. Ela não fora inocentada, mas condenada à prisão perpétua, o que ao menos lhe daria tempo e chance de passar por um novo julgamento.

É a história de Grace que é sombria; sente-se como se tivesse acabado de sair de um abatedouro. (P. 207)



Através das conversas entre Grace e o Dr. Jordan, somos inseridos na história de vida da moça, desde sua infância e a migração de sua família da Irlanda para o Canadá, até a data do crime. É muito interessante que, mesmo quando estamos lendo os capítulos narrados por Grace e estamos dentro de sua cabeça, o leitor fica intrigado, imaginando se a moça é mesmo culpada ou não e se ela está falando a verdade sobre perder a memória.


A escrita de Atwood mostra-se novamente genial, capaz de nos prender e surpreender até a última página. Exemplo disso é que o crime, que é tão falando durante todo o livro, só é o foco da história na metade de sua narrativa, e pensa-se que até então o livro seja fraco e sem emoções, mas não é nada disso! Mesmo antes do crime entrar em ação, a autora consegue nos cativar com seus personagens e nos faz ter uma empatia e apreço muito grande por Grace Marks, ainda que pensemos que ela seja culpada. Gostei muito da experiência de leitura desta obra e a recomendo a todos!

É estranho pensar que, de todas as pessoas naquela casa, eu era a única que estaria viva dentro de seis meses. (P. 234)



E sobre ela ser ou não culpada, você terá que ler o livro para descobrir e tirar suas próprias conclusões. Ao contrário de “O Conto da Aia”, optei por conhecer a obra literária antes de sua adaptação em seriado. Por isso, talvez eu volte aqui depois para fazer um parâmetro entre o livro e sua adaptação. Você leitor, já leu ou assistiu ao seriado? Conta pra gente nos comentários!

É estranho saber que você carrega dentro de si mesma a vida e a morte, mas não saber qual. (P. 503)

Livro cedido em parceria com a editora.
Comentários
13 Comentários

13 comentários :

  1. Olá!
    Creio que esse livro não faz o meu tipo de leitura, então, dessa vez deixo a dica passar. Mas para aqueles que gostam, sem dúvida, é uma excelente opção.
    Beijos

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  2. Oie, tudo bom?
    Cara, eu vi o trailer da série e fiquei encantada pra ler o livro, e a sua resenha só me deixou com mais vontade ainda! Amei saber da premissa, é bem meu tipo de leitura favorita. Parabéns pelo post ♥

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  3. ah, ela é o máximo
    adoro os livros dela mas esse eu ainda nao li, amei sua resenha
    ah e essa capa hein? linda demais!

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  4. Meu primeiro contato com a Atwood foi semana passada através da resenha deste mesmo livro e confesso que fiquei muito incitada a fazer a leitura assim que tiver a oportunidade. Se nota o grande trabalho de pesquisa da autora para escrever o livro, tornando uma leitura rica de fatos hiostóricos e muita das vezes desconhecidos.
    Apesar de já ter visto a série no netflix eu nem imaginava que vinha de um livro, ainda não assisti, mas parece ser uma ótima pedida. Dicas anotadas.

    Beijos.
    https://cabinedeleitura0.blogspot.com.br/

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  5. Oi Carol.
    Ainda não tive a oportunidade de ler a obra, mas consegui assistir a série e adorei a adaptação. Fiquei chocada com a história, não sabia nem que era inspirado em um crime real. A autora é maravilhosa e não vejo a hora de dar uma chance pra esse livro.

    Beijos

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  6. Guriaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa. então, o quote que você colocou ali é o mesmo que é utilizado no trailer da Netflix, sobre ela ser a única viva em seis meses. Confesso que estou mega curiosa para ver a série e se o livro é bem mais realista seria bem melhor o livro né, porém eu gosto do seriado porque é mais rápido e porque tem a Anna de atriz. Aiiii quero saber o final!!!!!!!!!!!!!!

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  7. Oi Carolina,
    Gostei muito de sua resenha e da história do livro. Não tive ainda oportunidade de ler nenhum livro da autora, mas ainda tenho esperanças de chegar lá.
    Amo livros baseados em histórias reais, que tem todo um trabalho de pesquisa e busca pelas informações, além do mais que deixa uma pulguinha atrás da orelha e dá asas a imaginação de cada leitor... culpada ou não, eis a questão?! rsrsrs...
    Super dica, obrigada, apreciei muito a resenha!

    Beijos e até a próxima.
    Fe
    https://ateaultimapagina.wordpress.com/

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  8. Olá ♥
    Não conhecia a obra, mas confesso que de imediato não tinha chamado minha atenção até eu ler suas considerações e saber um pouco mais sobre o enredo. Livros baseados em histórias reais tem o dom de mexer comigo, pois fico mais ligada ainda aos personagens e as suas razões e convicções.Vou procurar assistir a série!!Também quero fazer a leitura do livro, beijos!!

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  9. Oi! Não conhecia a autora, mas trazer um fato real misturado com ficção me parece muito interessante.
    Não conhecia a história da Grace também, mas depois de ler sua resenha vou querer conhecer a obra e pesquisar a história verdadeira.
    Dica anotada!
    Beijos!

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  10. Oi, Carolina

    Excelente resenha. Me deixou ainda mais curiosa para fazer essa leitura. Eu sempre procuro ler os livros antes das adaptações, até mesmo comprei O Conto da Aia e ele está aqui aguardando sua vez, só depois verei a série. Vulgo Grace será comprado em breve. Não sabia que tinha sido baseaso em uma história real. E que intrigante esse lance da memória dela... será que ela realmente não lembra? Fiquei curiosa! Hahahahah

    Beijos
    - Tami
    http://www.meuepilogo.com

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  11. Seguimos pelo mesmo caminho! Eu decidi ler a obra dessa vez e foi muito mais agradável, e só depois ver a série! Confesso que o crime foi a ultima coisa que me importou, Grace é uma personagem muito intrigante, nem sempre confiavel e doutor Jordan nos leva a questionar muitas coisas... Margaret se tornou queridinha na minha estante.

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  12. Oi Carolina! Tudo bem?
    Tenho esse livro em e-book aqui em casa pronto para ser lido porque infelizmente minha versão física ainda não chegou aqui. Com certeza é um livro que deve ser lido com muito cuidado e apreciado plenamente, pois a autora tem muito a oferecer.
    Abraços e beijos da Lady Trotsky...
    http://rillismo.blogspot.com
    http://osvampirosportenhos.blogspot.com

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  13. eu não gostei dessa capa... E como normalmente o que chama muito a minha atenção para parar e conhecer um pouco mais do livro é a capa, não sabia desse livro.
    Acontece que ler sua resenha me deixou super curiosa e querendo saber como a história se passa, mais até do que confirmar se ela é mesmo culpada ou não. Já ouvi falar muito bem da autora por conta de Aia, mas a premissa desse livro me chamou mais a atenção do que o outro. Coloquei na lista - e espero me envolver e curtir a leitura.
    Beijinhos,
    Lica

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