A grana é o primeiro romance de Cynthia D’Aprix Sweeney, renomada
colunista da The New York Times Magazine, publicado nos EUA em 2016 e trazido
ao Brasil pela editora Intrínseca. Esse
livro chegou às minhas mãos no momento certo, escolhido ao acaso, justo quando
estava precisando de uma leitura mais leve e divertida. Posso dizer com certeza
que essa necessidade foi satisfeita: A
grana é uma história tragicômica e perspicaz sobre as relações em família e
a “bagunça” ainda maior que elas podem se tornar quando dinheiro – em especial,
uma espécie de herança – está envolvido.
O romance narra a história dos
Plumb, uma família nova-iorquina, diversa e disfuncional, complicada à mesma
medida que é engraçada. Os quatro irmãos, Leo, Beatrice, Jack e Melody, nunca
se deram muito bem entre si: todos sempre foram muito diferentes e tiveram seus
atritos desde a tenra idade. Não é como se a criação de seus pais também
tivesse ajudado em alguma coisa, pois estes estavam longe de ser pais convencionais
e foram bastante ausentes nas vidas dos filhos. As relações entre eles só se
tornam ainda mais conflituosas quando Leo Plumb, o irmão mais velho, um homem
charmoso e extremamente irresponsável, acaba causando um acidente de carro no
qual fere uma mulher e acaba por comprometer o fundo de investimentos que o pai
Plumb – já falecido – havia preparado para que seus filhos desfrutassem perto
da meia-idade.
O fundo de investimentos dos Plumb
é apelidado carinhosamente pela família de “Pé-de-Meia” e seria liberado para os
filhos quando a mais nova, Melody, chegasse aos quarenta anos; nossa narrativa
começa três meses antes desse dia. Sonhando com o dinheiro do “Pé-de-Meia”, ao
longo de suas vidas, os irmãos fizeram planos, contraíram dívidas e criaram
grandes expectativas para seu futuro – e o futuro de suas famílias já formadas
– com a tal da grana em mãos. Acontece
que o fatídico acidente de Leo acaba dilapidando esse patrimônio e deixando
todo mundo em apuros. Daí em diante, os irmãos Plumb vão tentar resolver entre
si a recuperação do dinheiro, enquanto tentam equilibrar suas próprias famílias
bagunçadas e esconder alguns segredinhos sórdidos.
Ficha Técnica:
Título: A
grana | Autor: Cynthia D’Aprix Sweeney | Ano: 2016 |
Páginas: 336 | Idioma: português |
Editora: Intrínseca
Apesar do título sugestivo e do
nosso conflito principal, A grana
vai muito além da briga pelo dinheiro: trata da complexidade das relações
familiares, amorosas, de trabalho, todas.
De um lado temos Leo, o irmão que, antes do acidente, era o mais bem-sucedido e
rico, mas teve problemas com drogas, uma esposa hostil e um caso nunca
terminado com Stephanie, sua amante da juventude; do outro, temos Melody, a
irmã considerada mais apática, que é obcecada por controle, chegando ao ponto
de vigiar as filhas gêmeas por um aplicativo do celular, sem nem desconfiar que
elas estão dando um jeito de cabular as aulas do cursinho e escapar da rigidez
da mãe. Já Jack é o irmão mais debochado e tem uma personalidade ácida: ele é gay, dono de um antiquário e quer o
dinheiro do “Pé-de-Meia” a qualquer custo para cobrir uma dívida que esconde de
seu marido, o simpático Walker. Beatrice é uma escritora que deixou de fazer
sucesso há tempos e, depois da morte do amante Tucker, desistiu do sucesso
literário e se resignou a trabalhar na editora de Paul Underwood – que é
apaixonado por ela.
O estilo da história é muito leve,
fácil e prazeroso de ler, tanto que terminei o livro em pouquíssimos dias e
fiquei bastante satisfeita. Cynthia D’Aprix Sweeney nos presenteia com um humor
irônico que é realmente delicioso, além de personagens interessantes e muito
carismáticos, cada qual com suas peculiaridades. É uma narrativa que tem seus
momentos cômicos e dramáticos, como eu imagino que realmente sejam as vidas da
maior parte das grandes famílias. Sua obra não chega a ser surpreendente, nem inovadora,
e poderia ser mais convincente em alguns aspectos, admito; entretanto, no fim
das contas, A grana é um livro que
entrega o que promete. Recomendo para quem, assim como eu, está procurando uma
leitura leve e agradável, perfeita para distrair de um cotidiano atribulado ou
botar aquele sorriso no rosto ao final do dia. Leiam!