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Atlas de Nuvens, de David Mitchell

04 julho 2018



Atlas de Nuvens, de David Mitchell, é considerado um clássico da literatura contemporânea. Eu havia terminado de ler esse livro há alguns meses já, mas sentia que não seria capaz de fazer um comentário à altura dele. Dias atrás acabei decidindo, com saudade, reler algumas partes do romance. Percebi que estava pronta e precisava falar pra vocês dessa obra ao mesmo tempo maluca e genial. 

O romance do britânico David Mitchell consiste em um "combo" de seis histórias distintas, de personagens distintos, em lugares distintos e épocas distintas; no entanto, estão todas conectadas entre si por determinados elementos. Temos ali passado, presente e futuro. Tudo começa no século XIX, quando acompanhamos o diário do advogado Adam Erwing em alto-mar. Ele nos conta como acaba protegendo um escravo que estava apanhando no navio, ao mesmo tempo que começa a se sentir cada vez mais fraco, como se tivesse sido acometido por uma doença misteriosa. 

No século seguinte, década de 1930, esse diário vai parar nas mãos de Robert Frobisher, um músico desprezado pela própria família, com jeito de "malandro", que acaba se tornando escrivão de um respeitado pianista. Frobisher troca cartas com seu amante, Rufus Sixsmith – sim, representatividade LGBT! Yay! –, relatando sua vida na Bélgica. Nesse período, ele compõe o grande "Sexteto Atlas de Nuvens". Segundo Frobisher, cada solo do sexteto tem seu próprio idioma de tonalidade, escala e cor – óbvia referência às seis diferentes histórias do livro.


Ficha Técnica:

Título: Atlas de Nuvens | Autor: David Mitchell | Ano: 2004 | Páginas: 541 | Idioma: português | Editora: Companhia das Letras

Já na década de 1970, a jornalista decadente Luisa Rey conhece Rufus Sixsmith – o ex-amante de Frobisher –, enquanto se envolve em uma perigosa investigação sobre os problemas ambientais de uma usina nuclear. Luisa acaba tendo contato com as cartas, guardadas com carinho, que Sixsmith recebia de Frobisher, quarenta anos antes. A história da jornalista rende um romance policial, nunca publicado, que por sua vez, vai parar nas mãos de Timothy Cavendish, um velho editor que acaba sendo internado em um asilo por engano enquanto tenta escapar de criminosos. 

A seguir, um grande salto temporal é dado e vamos parar na Coréia futurista, onde clones são fabricados para fazer o trabalho que os humanos desprezam. É aí que conhecemos Sonmi, um desses clones femininos, que acaba desenvolvendo uma inteligência artificial além da desejada e começa a se envolver nos planos de uma Revolução. No meio de tudo isso, ela tem acesso à um filme que conta as desventuras do editor Timothy Cavendish. A revolta dos clones acaba trazendo o caos, de modo que a última história do livro se passa num futuro distópico, onde o jovem Zachry conta sobre acontecimentos misteriosos em sua tribo e o culto à deusa Sonmi. Ufa!

Atlas de Nuvens interliga todas essas histórias em detalhes, dando a sensação de que poderia estar acontecendo algo como uma reencarnação ou uma "transmigração de almas" através do tempo. O autor amarra diferentes experiências, emoções e estágios da sociedade, juntando história, romance, suspense policial e sci-fi. Cada parte do livro tem sua própria linguagem e estilo, devido aos vários narradores, de modo que não acaba cansando, porque quando você menos espera, já vem novidade. Quem lê esse livro não pode esperar que tudo lhe seja entregado de bandeja: há muito espaço para interpretação, aberturas e mistérios, como se nós estivéssemos recebendo todos esses documentos diversos em mãos e tivéssemos nós mesmos que montar o quebra-cabeça.

Concluo essa resenha dizendo que Atlas de Nuvens não é uma leitura das mais fáceis, porque exige essa interpretação da parte do leitor, mas é certamente recompensadora. A parte de Frobisher é definitivamente a minha favorita, não apenas pela relação dele com Sixsmith, é claro, mas porque adorei seu jeito cômico-irônico e ácido de relatar os acontecimentos; foi um personagem ao qual me apeguei muito e de quem senti saudades no resto da leitura. A edição em comemoração dos 50 anos da Companhia das Letras é LINDÍSSIMA, contando com uma bela jaqueta com colagens de fotos que remetem às diversas épocas retratadas no livro. 

P.S.: Atlas de Nuvens foi adaptado para o cinema em 2012, no filme A Viagem (achei um pecado mudarem o nome na tradução, mas ok), com Tom Hanks e outros grandes nomes da indústria cinematográfica. Dificilmente um filme consegue transmitir a grandiosidade de um livro, ainda mais quando é um livro complexo como esse, mas acabei gostando bastante da adaptação até. Vale a pena conferir!


Há tantas verdades quanto há homens. De vez em quando chego a vislumbrar uma Verdade mais verdadeira, escondida por trás de simulacros imperfeitos de si própria, mas, à medida que me aproximo, ela se move, mergulhando mais fundo no pântano agreste da cizânia.
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