Vox foi o grande lançamento da Editora Arqueiro do mês de outubro, chegando ao país como uma grande promessa de ser o novo “O Conto da Aia”, romance que ficou conhecido no mundo todo após o grande sucesso que o seriado baseado na obra gerou. Aqui no blog você encontra uma postagem muito legal sobre o livro e o seriado.
Dito isso, e sabendo que a leitura de “O Conto da Aia” é realmente impressionante (assim como o seriado), acho que fica fácil imaginar o motivo da minha animação com essa nova promessa. E também se você acompanha outros blogs e canais literários, já deve ter visto alguma resenha sobre esta obra - e provavelmente uma resenha muito boa. Eu mesma vi várias, o que só me deixou ainda mais animada para a leitura. Porém, minhas expectativas não foram atendidas e vou contar aqui o porquê.
Os filmes são uma distração, a única vez em que ouço vozes femininas sem limitação de palavras. As atrizes têm uma autorização especial quando estão trabalhando. Suas falas, claro, são escritas por homens. (P. 21)
O livro tem, sim, muitos pontos fortes. A premissa é muito interessante, a narrativa é bastante fluída, com capítulos curtos e objetivos, o que faz da leitura bem ágil. Temos personagens bem fortes e decididos. Porém, para mim, os pontos negativos se sobressaem.
O principal motivo de eu não ter gostado tanto da história é que, para mim, toda a mudança que acontece no livro, sobre como as mulheres acabam tendo apenas 100 palavras por dia, não foi bem justificada, logo, não me convenceu. Livros como “O Conto da Aia”, “1984” e “Admirável Mundo Novo” são distopias que nos tocam e nos assustam justamente por sua justificativa. Por nos aproximarem da história e nos fazerem sentir que aquilo poderia acontecer conosco, mas não foi o que senti com “Vox”. Eu também não me identifiquei com a personagem. Ela é uma doutora, mãe e pesquisadora, uma mulher realmente incrível, e é uma personagem muito real e cheia de falhas, como todos nós seres humanos naturalmente somos, ainda assim não me senti próxima a ela. Esses motivos, para mim, foram mais do que suficientes para a leitura do livro não ser tão extraordinária.
Tento me convencer de que não é minha culpa. Eu não votei no Myers.
Na verdade, eu não fui votar.
E aqui está a voz de Jackie de novo, dizendo que sou uma merda complacente. (P. 97)
Da metade do livro em diante temos mais ação, surge uma resistência contra o governo e acontecem eventos muito interessantes, mas novamente, mais pro final da história a autora se perde e a história acaba de uma maneira não muito interessante.
Ainda assim, ficarei de olho nos próximos lançamentos de Christina Dalcher, porque acho que ela ainda nos trará grandes histórias. Esse é apenas seu romance de estreia. Para uma autora habituada e premiada por contos, entendo que é uma transição difícil, mas tenho certeza de que ainda vou ler alguma história da autora que me impressionará muito.
- A culpa não é sua.
Mas é. E minha culpa não começou quando assinei o contrato de Morgan na quinta-feira. Minha culpa começou há duas décadas, na primeira vez em que não votei, nas vezes incontáveis em que disse a Jackie que estava ocupada demais para ir a uma das suas passeatas, fazer cartazes ou ligar para meus congressistas. (P. 215)